O alimento e o trabalho<br> como armas de repressão
«O Vaticano com as suas principais sucursais em cada país é, na actualidade, um dos pilares mais influentes do capitalismo financeiro internacional, em perfeita parceria e união com a Wall Street e com a Citty londrina. O Banco Central Europeu tem como seus accionistas alguns dos principais bancos ligados ao IOR, ou seja, ao principal banco da Santa Sé»... A tremenda crise do Vaticano exprime-se na incapacidade do grupo de ultra-direita dominante estruturar – tal como acontece com o capitalismo mundial – uma política nova...» (Vatileaks, Pagu, 22.3.2013).
«As ONG foram criadas pela ONU, nos anos 40, para designarem entidades não oficiais que recebem ajuda financeira de órgãos públicos para estabelecerem projectos de interesse social, no âmbito de uma filosofia de trabalho denominada desenvolvimento da comunidade... Hoje, as ONG desempenham funções estratégicas do ponto de vista das práticas desenvolvidas pelo poder e pela ideologia dominantes...». (Graziela Martins Nunes, IV Jornada Internacional de Políticas Públicas).
«O Brasil deve investir na agricultura de subsistência e nos pequenos agricultores. A agricultura mais eficiente é a agricultura de base. Mesmo a FAO e a ONU reconhecem que a agricultura familiar é a mais eficaz no combate à fome... No mundo, em cada cinco segundos uma pessoa morre de fome. Ou seja, é assassinada. A Reforma Agrária foi posta à margem e a partir de agora o assistencialismo não dará qualquer resultado. No seu estado actual, a agricultura mundial poderia alimentar 12 biliões de seres humanos» (Jean Ziegler, sociólogo suíço, “Destruição em Massa, Geopolítica da Fome”).
As grandes religiões organizadas não podem fugir às responsabilidades políticas, económicas e sociais, ainda que invoquem uma eventual natureza espiritual. Nunca lhes deveria, em qualquer caso, ser permitido fazê-lo para justificarem crimes sociais, sobretudo quando estes arrastarem lucros inaceitáveis para as igrejas representativas dessas religiões. As principais confissões invocam, invariavelmente, serem sedes supremas de justiça e de ética. Mas constituem núcleos em desenvolvimento de holdings comerciais de exploradores comprometidos na governação.
É evidente que para se para se afirmar e progredir, qualquer religião dominante tem de dispor de poderes compatíveis com as suas ambições políticas e financeiras. Católica ou não, qualquer grande doutrina organizada visa dominar o poder económico e disciplinar a vida política, religiosa ou laica. Toda a resistência que se oponha a esta ambição insuperável participa na luta mundial de classes, em fase de grande aceleração mas que o Vaticano, estrategicamente, finge ignorar. Tal como o agronegócio, (parte essencial de uma Nova Ordem Mundial fascista) pode exemplificar.
A Nova Ordem visa retalhar o mundo, acorrentando as nações fracas aos países fortes, debilitando e destruindo nacionalidades e estados soberanos, reduzindo as classes sociais à dos que possuem e à dos que são possuídos, extinguindo o figurino do trabalho com garantias e cortando salários até conseguir que todo o esforço laboral assalariado seja gratuito, como no velho esclavagismo, apenas pago com um mínimo que permita sobreviver. A massa escrava assim constituída é então colocada à disposição dos milionários e das suas instituições, nomeadamente das suas redes bancárias e de hipermercados e dos seus offshores. Dizia Henry Kissinger, católico convicto, capitalista norte-americano, grande vulto da guerra fria: «Quem domina a comida domina as pessoas...».
O agronegócio brasileiro, nas suas contas de 2013, produziu resultados contraditórios: enriqueceu os ricos e empobreceu os pobres; agravou a recessão e o desemprego; escavou o fosso entre o campo e a cidade; fragilizou o mercado interno e fez crescer o número de novas fortunas. Mas adiou a bancarrota do capital especulativo. O crédito bancário rareou e encareceu (só os bancos privados cobraram, num ano, 280 biliões de reais em juros). Tudo a lembrar o que em Portugal aconteceu e continua a acontecer.
Agora, a maior esperança de sobrevivência dos grandes agiotas repousa na esperança da implantação simultânea do agronegócio nos mercados europeus e sul-americanos, de forma a amparar os ricos à custa dos mais pobres.
Nada disto será viável sem a presença da Igreja. E para esta é urgente traçar de si própria um novo figurino social. O Vaticano tem de ficar ligado ao lucro mas condenar em alta voz o capitalismo de exclusão social.
Com um Papa surpresa em primeiro plano, como é natural!